27.6.14

Porque amanhã é dia de Mercado




Sopa fria de beterraba, couve-flor roxa, cebola roxa, courgette amarela e coentro em flor 
Cebola roxa caramelizada com cogumelo Portobello e sementes de sésamo torradas, on top.

Addicted




- dos simples prazeres da vida -

21.6.14

Receber o Verão, de braços abertos




E se não pôde ser a abraçar o mar, foi - e tão bem! - a mergulhar na serenidade de uma mata.
Bem vinda sejas, estação dos dias maiores!

Começar o dia por ir à horta...




Couve-flor roxa, cebola roxa, cenoura roxa, courgete redonda, courgete amarela, beterraba, rabanetes, coentro em flor, funcho, malva rosa e tomilho limão. A acrescentar, os morangos e as cerejas que não couberam na fotografia e há fruta, sopas, saladas e infusões para a semana inteira!

Tudo, do magnífico mercado biológico do Príncipe Real.

20.6.14

| As cidadãs anónimas de Lisboa*




« Se pensarmos nos Jacarandás floridos, na sua dança aérea e azul, Lisboa parece estes dias uma composição sonhada por Chagall ou Matisse. Lisboa deve às árvores que possui, às árvores de que se esquece, uma parte eloquente da sua beleza. Elas guardam, para nós, a cor, o alfabeto vegetal do silêncio, o atalho secreto da alegria.
O seu movimento parado é uma ilusão, pois as árvores são extraordinárias viajantes que se deslocam através de distâncias incalculáveis. Chegaram aqui vindas do Cáucaso, da Sibéria, do Tibete, da América... por ventos, por correntes marítimas, nos grandes invernos... ocultas nos pés dos escravos, escondidas algures na trouxa de um distraído mercador ou entre o pelo dos animais... E se estão ao pé de nós, sabemos também que estão sempre a partir. São fluídas. Mudam de casca e de casa. Morrem. Migram da noite para o dia.
Aprendemos a contar por elas as estações do ano e da nossa vida. Há as árvores da infância. As do nosso bairro, anos mais tarde. Há uma árvore que avistamos de relance em situações que depois não esquecemos mais. (...) 
Lisboa tem uma população admirável de árvores. Algumas estão classificadas e têm um estatuto semelhante ao do património construído classificado. Tudo isto está muito bem. Mas quando andamos pelas ruas de Lisboa e nos cruzamos com árvores, elas não têm identificação alguma, são cidadãs anónimas! Raros são aqueles que as tratam pelo nome próprio (...) »


in O Hipopótamo de Deus
- José Tolentino Mendonça - 


* numa homenagem a todas elas, à estação que amanhã muda e a todas as pessoas que conhecem quase todas as árvores e aves pelo nome, como conhecia o meu avô.

17.6.14

Quando 4-0, fazendo bem as contas, são o mal menor


O problema de Portugal não é ter perdido um jogo. Perder nunca deve ser vergonha nem motivo para baixar os braços e o ânimo seja a quem for ou pelo que for. O problema do jogo que foi perdido é outro. É sub-reptício, subliminar e não se resolve com contas e pontos.

- O problema de Portugal é um Chefe de Estado com tiques de provincianismo e achaques de politicamente correto, que não acompanha a sua Seleção porque o país está em crise. 
- O problema de Portugal é um Selecionador Nacional que à beira de uma competição mundial diz que a sua única ambição como meta primeira é chegar aos oitavos de final e que o facto de ter o melhor jogador do mundo não o obriga a ser campeão do mundo. 
- O problema de Portugal é ter comentadores que antes de começar a segunda parte já dizem que "este ainda foi só o primeiro jogo" em lugar de dizer "esta ainda foi a só a primeira parte"
- O problema de Portugal é achar que um rufia no futebol é um jogador com mau feitio. O problema de Portugal é não sabermos trabalhar em equipa.
- O problema de Portugal é a forma como nos encaramos como profissionais nas mais diversas áreas, incluíndo o futebol
-O problema de Portugal é sermos todos excelentes "treinadores de bancada" mas na hora de "entrar em jogo" termos uma justificação, sempre talhada à medida e fora do nosso controle, para não ter feito melhor
- O problema de Portugal é precisarmos sempre de quem nos motive, depois de quem nos leve e depois de quem nos ampare e desculpabilize. O problema de Portugal é esperar que nos aparem os golpes.
- O problema de Portugal é escolher os argumentos óbvios nos momentos menos oportunos, é sacudir a água do capote, é fugir com o rabo à seringa, é falta de norte e de auto-análise.
- O problema de Portugal é sermos medíocres a entrar com tudo e a lutar com garra e sermos exímios quando estamos à rasquinha, quando temos as calças na mão ou a corda ao pescoço e na hora de contar as migalhas
- O problema de Portugal chama-se falta de auto-estima, falta de confiança, falta de pulso e falta de visão
- O problema de Portugal é um problema de identidade, é acharmos que somos menos que uns e melhores do que outros. O problema de Portugal é andarmos há muito perdidos no mapa e na geografia das emoções.
- O problema de Portugal não é perder 4-0 seja com quem for. O problema de Portugal é ter uma atitude perdedora antes de entrar em jogo, é estar em campo a dar um jeitinho e terminar com uma atitude vencedora depois de colher o mal que plantou.
- O problema de Portugal é não conseguir ver espelhado num simples e transitório jogo de futebol, a sua vida politica, a sua vida empresarial e a sua atitude como povo.
- O problema de Portugal é a iliteracia profunda da alma que só nos permite ler à superfície tudo o que fomos e somos.

À Vida


Aos talentos iluminados.

Às vidas inutilmente desperdiçadas
À arte como uma forma de imortalidade
À música e à dança. por me fazerem voar sem asas


15.6.14

SPA*




Caminhar no mar, com água pela cintura, ao longo da praia
Benefícios: hidromassagem rica em sais minerais; drenagem linfática; ativação da circulação; reflexologia do pé.

Se a água estiver fria ainda há um bónus adicional: lifting

All for free, num simples fim de semana de praia.
A Natureza cuida tão bem de nós!



*Sanitas Per Aqua

13.6.14

Há festa na escola


Há poucas sensações tão intensamente guardadas da nossa infância e juventude escolar como os últimos dias de aulas.

Os últimos dias, a última semana de um calendário escolar, é uma espécie de enamoramento a posteriori. Dificilmente conseguimos explicar como, depois de tantos meses em que desejámos dormir até mais tarde, não ver mais os professores, não ter testes nem livros para folhear, de repente, nos últimos dias, nas últimas semanas, nasce assim um amor maior àquele portão que se atravessa no escoar das últimas horas, rumo às salas que tão pouco antes repelíamos e ao pátio de que já andávamos fartos. 

Foi assim comigo, terá sido assim convosco. É assim com a minha filha e tantas outras crianças e adolescentes de hoje. A última semana de aulas é literalmente mágica.
No último dia chora-se e, sempre que o fim do ano letivo obriga a uma mudança de escola, juram-se algumas amizades eternas. Como todas as amizades de Verão. Abençoadas!

Nos últimos dias há música, há festa e, seja qual for o desfecho do ano letivo, há um alívio explicito no ar. De alunos e de professores. Um sentimento geral de missão cumprida. Um saldo em que quase sempre ganha o haver ao dever. 

À porta de minha casa mora uma escola de pequeninos. Moro naquilo a que a polidez da cidade chama periferia e a que eu faço questão, em nome da verdade que não se altera pelo léxico, de chamar subúrbio. Quem vive nos subúrbios da cidade sabe que há uma realidade que é diferente. Não melhor, não pior. Diferente, por ser peculiar. Na escola que vive à minha porta, todos os anos, nos últimos dias, há sempre música popular e marchas a tocar. Os meninos ensaiam, divertem-se. A voz dos professores, mais leve e mais entusiasmada, dá as coordenadas. No último dia a minha rua fica cheia de carros e eu sem lugar para estacionar. Os pais vêm à escola para ver o que os meninos ensaiaram, para celebrar mais uma etapa do caminho, para cumprir mais um ritual. E há qualquer coisa que nos subúrbios da cidade se vive de forma diferente, até na escola. Tão diferente e ao mesmo tempo tão doce e simples como tratar o vizinho por vizinho, quando dizemos bom dia no elevador. Gosto tanto!

Depois do dia último, a minha pacata rua volta a ficar ainda mais silenciosa. No recreio da frente deixam de cantar os sorrisos dos pequeninos e deixo de ouvir o tom alto dos professores de ginástica. Em Setembro, a vida retoma o ritmo que o calendário lhe impõe. Regressar sabe sempre bem. Há sempre muito para contar sobre o que se fez no mais longo dos intervalos. E ainda que o encantamento do regresso seja sol de pouca dura, quando de novo o novo ano terminar, a paixão pela escola que finda vai estar ao rubro. Assim são tantos outros ciclos de vida que vivemos, sem nos darmos conta. Focamos-nos tanto no que não gostamos no durante e apaixonamo-nos tão intensamente perante os fins anunciados. Seria tão bom que na escola e na vida aprendêssemos a desfrutar mais da viagem.


12.6.14

A arte do inacabado*


«É-nos dito e repetido que o tempo bem aproveitado é um contínuo, tendencialmente ininterrupto, que devemos esticar e levar ao limite. A maioria de nós vive nessa linha de fronteira, em esforçada e insatisfeita cadência, a desejar, no fundo, que a vida seja o que ela não é: que as horas do dia sejam mais e maiores, que a noite não adormeça nunca, que os fins-de-semana cheguem para salvar-nos a face diante de tudo o que fica adiado. Quantas vezes damos por nós a concordar automaticamente com o lugar comum: "Precisava que o dia tivesse quarenta e oito horas" ou "precisava de meses de quarenta dias". Desconfio que não seja isso exatamente que precisamos. Bastaria, aliás, reparar nos efeitos colaterais das nossas vidas sobrecarregadas, no que fica para trás, no que deixámos por dizer ou acompanhar. Sem darmos bem conta, à medida que os picos de atividade se agigantam, as nossas casas vão se assemelhando a casas devolutas, esvaziadas de verdadeira presença; a língua que falamos torna-se incompreensível como uma língua sem falantes no mundo mais próximo; e mesmo que habitemos a mesma geografia e as mesmas relações, parece que, de repente, isso deixou de ser para nós uma pátria e tornou-se numa espécie de terra de ninguém.

O ponto de sabedoria é aceitar que o tempo não estica, que ele é incrivelmente breve e, que por isso, temos de vivê-lo com o equilíbrio possível. Não nos podemos iludir com a lógica das compensações: que o tempo que roubamos, por exemplo, às pessoas que amamos, procuraremos devolvê-lo de outra maneira, organizando um programa ou comprando-lhes isto ou aquilo; ou o que retiramos ao repouso e à contemplação vamos tentar compensar numas férias extravagantes. A gestão de tempo é uma aprendizagem que, como indivíduos e como sociedade, precisamos de fazer.

Nisto do tempo, por vezes, é mais importante saber acabar do que começar, e mais vital suspender do que continuar. [...] Aceitar que não atingimos todos os objetivos que nos tínhamos proposto. Aceitar que aquilo aonde chegamos é ainda uma versão provisória, inacabada, cheia de imperfeições. Aceitar que nos faltam as forças, que há uma frescura de pensamentos que não obtemos mecanicamente pela mera insistência. Aceitar porventura que amanhã teremos de recomeçar do zero e pela enésima vez.

Creio que o momento de viragem acontece quando olhamos de outra forma para o inacabado, não apenas como indicador ou sintoma de carência, mas condição inexcusável do próprio ser. Ser é habitar, em criativa continuação, o seu próprio inacabado e o do mundo. O inacabado liga-se, é verdade, com o vocabulário da vulnerabilidade, mas também (e eu diria, sobretudo) com a experiência de reversibilidade e reciprocidade. A vida de cada um de nós não basta a si mesma: precisaremos sempre do olhar do outro, que é um olhar outro, que nos mira de um outro ângulo, com uma outra perspetiva e outro humor. A vida só por intermitências se resolve individualmente, pois o seu sentido só se alcança na partilha e no dom.»

in O Hipopótamo de Deus
- José Tolentino Mendonça - 


* na monda dos dias, há que aprender a parar, a respirar um outro ar e então continuar

9.6.14

Dos dias diferentes
























Passamos a vida a comprar revistas com casas bonitas, a suspirar por férias em lugares especiais, a adorar ter aquela vida que vemos nos filmes e muitas vezes esquecemos como, no dia a dia, podemos ter um pouco de tudo isso nos simples detalhes. É tudo uma questão de escala.

Não é preciso ser figura pública, nem modelo, nem dotado de narcisismo para gostar de ter fotografias bonitas, daquelas que também procuramos nas revistas que contam a história de vida de outros. Outros que são exatamente iguais a nós e por vezes infelizmente nem isso, embora seja o que vendem por fora.

Não tenho uma casa grande com jardim, nem o tão sonhado monte para poder receber em festa e cumplicidade os amigos. Ainda?... Talvez, mas como a trabalhar honestamente não vou seguramente tê-los, só quando me sair o euromilhões, em que nem sempre jogo. Mas se não tenho A casa, tenho o espaço livre de um recanto sereno mesmo no meio da cidade. Esse, todos temos. Se aproveitarmos o que temos à mão, sem grandes condicionantes e projeções para um futuro que pode nem nunca chegar, é sempre possível estar mais perto do que somos e do que gostamos e viver a vida tal e qual a idealizamos, sem filmes, na vida real.

Também não é necessário passar a vida a falar da simbologia e significado que tantas coisas importantes têm. 
Falar de Gratidão para com a Vida e o tanto que Ela nos dá de mão beijada, falar do valor da Partilha, da Comunhão, da Amizade, da Cumplicidade, não tem de ser um exercício exaustivo de palavras. Para ser importante, basta a maioria das vezes ser vivido. Esse é talvez o desafio maior com que a Vida nos interpela. Entregarmo-nos de corpo e alma àquilo que somos e àquilo em que acreditamos e chamar, a quem possa ser igualmente importante, a partilhá-lo connosco, sem pedir palavras e sem esperar contrapartidas. Fazendo-o só, simplesmente, porque nos é importante. É essa a única religiosidade em que acredito. A da pureza de espírito.

Há muito que sentia saudades de voltar a fazer um piquenique. Como em tudo, a pior armadilha que criamos para nós próprios é passar a vida a adiar. Se quisermos, há sempre motivos para fazê-lo. O que não faltam no atropelo dos dias são desculpas para não chamar para perto o que queremos, porque ou dá trabalho ou raramente vem [na nossa cabeça], na melhor altura.

Ontem foi dia de celebrar a Primavera. Cada um trouxe o seu mais caseiro e dedicado contributo. A partilha deu-se e a Vida, numa pequenina parte do que é a sua grandeza, cumpriu-se. Basta isto, não é preciso muito.